sábado, 23 de abril de 2011

sem nada, mas tendo tudo - edelwiss



Alguns encontros são inusitados. Divinos.
O vôo 3086 de 20 de Abril de 2011 será lembrado por muitos motivos. Depois de fazer o trajeto Rio-Vitória por duas vezes e na segunda vez com duas arremetidas consecutivas sem concluir a aterrissagem por falta de contato visual, o comandante soberanamente resolveu retornar em definitivo ao Santos Dumont para desespero da galera. A fórmula: véspera de feriadão, cansaço, fome, despreparo e desrespeito da companhia aérea foi explosivo, quase trágico. Uma turba de passageiros quase invadiu o estande da TAM ante a falta de alternativas para passarmos a páscoa em casa. Depois de muito bate boca nada amistoso, a promessa de um vôo às 5 horas da manhã no dia seguinte, um vale-refeição e o translado para o Galeão, acalmaram um pouco os ânimos. O que seria um vôo rápido de 45 minutos se transformou num tremendo PI (programa de índio) de mais de 12 horas. Por conta disso fiquei 26 horas acordado.
Às 2 horas da manhã eu saía do restaurante para encarar o trajeto do terminal 1 para o terminal 2 no Galeão. Quase uma viagem. Por sorte oferecem esteiras rolantes e um carrinho elétrico que ajudam no traslado. Por azar nenhum dos dois funcionava depois da meia noite. Foi aí que encontrei uma senhorinha meio desorientada procurando ajuda. Minutos antes tinha se acidentado no próprio aeroporto e com vergonha me confidenciou que tentou subir a escada rolante com carrinho e tudo. Carrinho e tudo viraram sobre ela causando pânico e sangramentos nas duas pernas. Sozinha, sem ninguém da tal desrespeitosa companhia aérea por perto e com muita bagagem, a senhorinha estava com uma expressão de medo. Aproximei-me tentando confortá-la. Depois de oferecer um café me candidatei a levá-la até o distante terminal 2 numa cadeira de rodas que ofereceram depois da queda. Ela timidamente aceitou. Uns amigos ajudaram levando a minha bagagem. O trajeto foi suficiente para conhecer um pouquinho da história da Edelwiss. Viúva, sem filhos e morando sozinha, estava indo até sua terra para rever parentes. Nascida em Afonso Cláudio, depois de casar mudo-se para Niterói onde aposentou-se como funcionária pública. Acompanhei a Edelwiss até a sala de embarque e ela constantemente agradecia dizendo que não sabia o que seria da vida dela sem esta ajuda. Nem tanto.
A apoteose deste encontro ainda estava por vir. Às 4 da manhã ela se aproximou e num longo e emocionante discurso, declarava seu amor por Jesus, tentando me evangelizar. Suas palavras aqueciam meu coração e eu me convertia a cada afirmação. Deus nos ama, mas odeia o pecado. Todos somos pecadores. Deus amou o mundo a ponto de enviar seu único filho. Quem tem Jesus tem a vida eterna. E de muitas maneiras entregava a Palavra sistematizando o plano de salvação de várias formas, todas apaixonantes. Eu só me deliciava e quase uma hora depois me revelei de vez quando completei alguns versículos, que ela falava de cor com fartura, e não resisti e cantei com a Dona Edelwiss o coro de um hino. Ela a plenos pulmões, eu um tanto acanhado por conta do silêncio que todos faziam naquele saguão. Ela foi a resposta de minhas orações. Tenho pedido a Deus o dom de evangelista. Ele me revelou o dom encarnado numa serva que corajosamente não perdeu tempo em influenciar um desconhecido que atravessou seu caminho. Descobri então que ela estava indo para Vila Velha não para curtir o feriadão, mas para participar de um projeto missionário: a Tenda da Esperança. Minha vergonha só aumentava. Trocamos telefones. Quero tomar outro café com Dona Edelwiss e pedir para que ela ore com imposição de mãos sobre Isabella, Monique e Ana Paula. Quem sabe, por misericórdia, minhas filhas recebam o dom de evangelista assim como a irmã Edelwiss?
Já no aeroporto de Vitória, ela ainda me fez um último pedido. Ore por mim. Pra que a Senhora se reestabeleça da queda? Não, para que meu projeto missionário tenha sucesso e vidas sejam transformadas. Seu projeto já começou, irmã Edelwiss, minha vida foi transformada.

sábado, 16 de abril de 2011

sem prata, sem ouro, com amor - walace



Alguns encontros são especiais. Divinos.

Encontrei o Walace na escadaria do hall de entrada do prédio onde minha mãe e minha irmã moravam. Gabi, minha sobrinha, e mais uma turma de amiguinhos, divertiam-se com a espontaneidade do menino de rua que apareceu por ali, dizendo-se fugitivo de casa. Intrigados os ‘meninos do prédio’ não conseguiam digerir a idéia de que o Walace não sabia seu endereço, e que sua casa não tinha telefone. Afinal, tudo se resolveria com um simples telefonema, o que seria muito natural para essa turminha. Tudo isso os divertia, mas também os assustava. Quando cheguei, a Gabi logo gritou: Tio, tio, este menino está perdido, por que você não o ajuda a achar sua casa? Estava indo à academia, e no primeiro instante o Walace correu como uma bala quando eu o chamei para mais perto, liso como um quiabo.

Ele dançava como uma lacraia e isso divertia as outras crianças. Depois de pouca resistência ele se aproximou e eu o peguei pela mão. O Walace era um típico menino de rua. Descalço, sem camisa, magrelo, as “saboneteiras” lhe apareciam bem definidas, cabelo duro e fétido, e com um calção caindo, na certa uma numeração maior que a sua. Perguntei onde morava, e ele me respondeu que não sabia o lugar, apenas a direção. Caminhando na tal direção apontada, ele disse que teria que ir até o fim daquela rua, pelo menos era o que achava o menino que não demonstrava nenhuma preocupação por estar perdido.

O curto espaço de intercessão de nossas vidas, foi o suficiente para descobrir que o Walace tinha 7 anos, morava com a mãe e seu avô, pois, pai não tinha mais. Argumentei que ele precisava voltar pra casa, pois sua mãe deveria estar preocupada, e que já era tarde, e já estava quase na hora do jantar. Perguntei-lhe, então, o que ele jantaria naquele dia e o menino foi rápido em responder: sopa. Sopa deveria ser prato fácil por lá tamanha sua convicção do cardápio. O quarteirão que unia nossos caminhos terminou e eu precisava dobrar à esquerda para seguir em direção à academia, despedi-me do Walace, recomendando-o que não parasse em nenhum lugar, até que encontrasse sua casinha.  Algumas passadas adiante me arrependi de ter deixado aquela criança ir embora sem sequer ter orado por ela abençoando-a. Olhei para trás por três vezes, na esperança de ainda vê-lo brincando na esquina, mas nada, o Walace se foi.

Fiquei imaginando o que seria da vida daquele menino, e me afligi por me lembrar que a situação do Walace não era diferente de milhares de crianças que vagam por aí nas ruas, muitas delas perdidas como nosso guri, sentindo-se desprotegidas e abandonadas. Aquilo só acentuava minha culpa. Mas a sorte estava comigo, pois antes de chegar na academia, ouvi uns gritinhos: Psiu, psiu, ei! Era o Walace correndo como um foguetinho em minha direção. Quando chegou bem perto pegou minha mão de novo e ofegante disse: Estou perdido, não sei voltar pra casa! Feliz por tê-lo encontrado novamente em tão pouco tempo, mas meio desesperado por ter agora o compromisso moral de ter que achar a casa dele, tentei acalmá-lo para fazer-lhe algumas perguntas.

Minha linha de investigação partiu do pressuposto que ele se lembraria de algum ponto de referência conhecido. Ah, lá perto de casa tem um bar, disse o guri sem contudo esclarece-me nada. Com um pouco de esforço mental ele lembrou-se finalmente de uma loja de móveis conhecida, e lá pelas tantas o nome de uma rua próxima. Aqueles indícios foram suficientes para eu me informar com algumas pessoas que estavam por ali, e indicar com certa confiança, qual o melhor caminho que o Walace deveria tomar para chegar em casa, ainda em tempo de pegar sua sopa quentinha, quem sabe. Mas, minha remissão não seria completa se eu não abençoasse aquele menino. Perguntei se ele sabia o que era orar, e ele abanou com a cabeça num sinal afirmativo. Indaguei então se sabia quem era Deus, e novamente sem palavras ele confirmou que sim. Então por alguns minutos ali mesmo na rua abençoei a vida dele, orei suplicando ao Senhor que intervisse na história daquela criança e que desse direcionamento para seu futuro, e que algum dia eu pudesse encontrar-me novamente com ele, dessa vez com um jovem temente a Deus, cheio do poder do Espírito Santo atuando em sua vida.

Talvez você nunca tenha o privilégio de conhecer o Walace mas, com certeza, poderá dar uma palavra de direcionamento a muitas pessoas que estão próximas a você que, como crianças, estão perdidas, desorientadas, longe da casa do Pai. Caberá a você apontar-lhes o caminho, o único caminho que os levará de volta para casa que é Jesus Cristo. Quem sabe Deus lhe dará o ministério de caminhar com elas durante um tempo, e através de sua vida poderá mostrar que na casa do Pai a refeição é farta e infinitamente melhor do que uma sopa monótona e requentada.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

jó e a mesa(da) dos filhos

Precisamos aprender com Jó. O que ele fazia para manter uma convivência harmoniosa com os filhos? Lendo os primeiros capítulos do Livro de Jó aprendemos algumas de suas características:

um homem - em tempos de apologia ao homossexualismo isso parece relevante. Ser macho é uma questão de nascença, mas ser homem é uma escolha que Jó fizera;
um bom cidadão - integridade, retidão e cidadania eram adjetivos claros na vida dele;
cultivava a santidade -um homem piedoso, temente a Deus que ralava para se desviar do mal. Fica claro o esforço dele em manter-se em clima de santidade.
malado - era o Eike Batista da época. Dinheiro, bens e influência não faltavam.
constante - ele era coerente e constante com seus princípios. Era labareda de fogo e não fogo de palha;
ótimo pai - promovia atividades que criavam um ambiente de relacionamento alegre e prazeroso com e entre os filhos. Aqui quero me deter um pouco.

Quero debulhar este tema porque não é difícil encontrarmos homens com alguma das outras características, mas bom pai hoje é um bicho em extinção. Não aprendemos esta matéria nas faculdades, nem com nossos pais. A harmonia que encontramos na relação pai & filhos na história de Jó é fantástica. E não se consegue isso da noite para o dia. Com certeza Jó investia grana, recursos, influência, talentos, tempo e o que fosse preciso para ganhar o coração dos seus filhos desde pequenos. Respeitando cada faixa etária ele era criativo para fazer progamas para ganhar o coração do bebê, do adolescente, do jovem, do adulto. Mais do que mesada ele promovia a mesa. Encontros alegres e periódicos com todos os filhos em torno da mesa. Se haviam atritos? Claro. Isso acontece com as melhores famílias, até na de Jó. Imagine quando se encontravam as cunhadas, cunhados, primos e primas? Devia haver fofoca, ciúme, barraco, ou não? Jó levava tudo no braço, não desistia de investir nos encontros e no discipulado dos filhos com práticas devocionais preventivas. Vai que os meninos pecaram?

Jó era o cara, preciso aprender com ele. Como Jó, promova refeições familiares.

Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal. Nasceram-lhe sete filhos e três filhas.  Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do Oriente. Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.  Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente. Jó 1:1-5

Veja um dos melhores comerciais que conheço. Como bom marketeiro gostaria de tê-lo feito. Aproveite as oportunidades para estar à mesa com quem você ama.


domingo, 3 de abril de 2011

pra quem sabe cantar, assobiar ou sapatear

Estive na Creche da Tia Lora sexta passada. Sempre aprendo muito com ela:

foco: cuidar das crianças para que os pais vizinhos possam trabalhar;
networking: fantástica rede de relacionamentos que viabiliza a proposta financeiramente;
paixão: está há 15 anos sendo imprescindível para aquelas famílias;
dependência: trocou a dependência das drogas pela de Deus. Espera somente no Senhor;
reconhecimento: é muito grata a Deus, aos voluntários e apoiadores.

Vi um consultório médico estalando de novo, com poucos médicos atendendo. Vi um consultório dentário montadinho, com poucos dentistas comprometidos. Vi uma sala com equipamentos de salão de beleza para capacitar os pais numa atividade rentável, com poucos profissionais que se diponibilizem a ensinar. Vi uma sala de aula lindinha, com poucos professores determinados. Vi muitas possibilidades. Mas também não vi muitas possibilidades, que somente você verá ao chegar lá. Vi também que a Tia Lora está cansada.

As crianças são muito carentes da figura masculina. Me abraçaram mais do que a Luciane que estava comigo. Acho que lhes falta Pai. Não dá pra ficar insensível com tanta carência. Mais que amigo - que pode ser displicente e ausente, mais que um voluntário - que pode ser mecânico e frio, mais que apoiador - que pode faltar ou desaparecer, a Tia Lora precisa de gente que aplique no sangue e fique contaminada pra sempre com o desejo de ser útil ali.

Chega de ser fogo de palha. Quero ser labareda de fogo.

Doe meio expediênte/mês. Se você sabe cantar, assobiar ou sapatear, já pode ajudar ali.

Luciane não vacilou e em pouco tempo tornou aquela tarde de sexta feira mais alegre.



fogo de palha ou labaredas de fogo




fotos que fiz no local


Quem já não começou um propósito nobre e desistiu pelo caminho que me atire a primeira pedra. Basta lembrar das dietas e das atividades físicas. A carne jogando contra e alcançados por tisunamis frequentes de informações somos facilmente distraídos e desviados dos propósitos relevantes e perenes. Decidi que não me arvorarei de nada antes de completar pelo menos um ano de atividade constante e consistente. Chega de atender a apelos emotivos e pegar pilha, porque, me conheço, a pilha acaba. Vai ser assim com o blog. Depois de um ano poderei jactar-me: escrevo um blog. Até lá é ralar e divulgar.

Há mais de 10 anos ajudo a Creche da Tia Lora - pelo critério acima posso publicar - e já o fiz de muitas formas. Dando grana, mantimentos, tempo, mas o que deu maior resultado foi usar minha influência para que amigos e irmãos conhececem e apoaissem o projeto também. Digo isso porque são esses amigos e irmãos que dão hoje uma contribuição muito maior que a minha. Então começo hoje, como nunca antes, um grande movimento de convocação para que você invista neste projeto voluntário que hoje abençoa 50 famílias. A Tia Lora toma conta desde cedinho até a tardinha de 50 crianças, dando refeições, carinho e atenção para que os pais vizinhos possam trabalhar. Simples e poderoso assim. Ah, ela não cobra nada.

Quer ficar rico?Pergunte-me como: doe-se.
Pra que ser de fogo de palha, se você pode ser labareda de fogo?

Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo. Hebreus 1:7b