sábado, 16 de abril de 2011

sem prata, sem ouro, com amor - walace



Alguns encontros são especiais. Divinos.

Encontrei o Walace na escadaria do hall de entrada do prédio onde minha mãe e minha irmã moravam. Gabi, minha sobrinha, e mais uma turma de amiguinhos, divertiam-se com a espontaneidade do menino de rua que apareceu por ali, dizendo-se fugitivo de casa. Intrigados os ‘meninos do prédio’ não conseguiam digerir a idéia de que o Walace não sabia seu endereço, e que sua casa não tinha telefone. Afinal, tudo se resolveria com um simples telefonema, o que seria muito natural para essa turminha. Tudo isso os divertia, mas também os assustava. Quando cheguei, a Gabi logo gritou: Tio, tio, este menino está perdido, por que você não o ajuda a achar sua casa? Estava indo à academia, e no primeiro instante o Walace correu como uma bala quando eu o chamei para mais perto, liso como um quiabo.

Ele dançava como uma lacraia e isso divertia as outras crianças. Depois de pouca resistência ele se aproximou e eu o peguei pela mão. O Walace era um típico menino de rua. Descalço, sem camisa, magrelo, as “saboneteiras” lhe apareciam bem definidas, cabelo duro e fétido, e com um calção caindo, na certa uma numeração maior que a sua. Perguntei onde morava, e ele me respondeu que não sabia o lugar, apenas a direção. Caminhando na tal direção apontada, ele disse que teria que ir até o fim daquela rua, pelo menos era o que achava o menino que não demonstrava nenhuma preocupação por estar perdido.

O curto espaço de intercessão de nossas vidas, foi o suficiente para descobrir que o Walace tinha 7 anos, morava com a mãe e seu avô, pois, pai não tinha mais. Argumentei que ele precisava voltar pra casa, pois sua mãe deveria estar preocupada, e que já era tarde, e já estava quase na hora do jantar. Perguntei-lhe, então, o que ele jantaria naquele dia e o menino foi rápido em responder: sopa. Sopa deveria ser prato fácil por lá tamanha sua convicção do cardápio. O quarteirão que unia nossos caminhos terminou e eu precisava dobrar à esquerda para seguir em direção à academia, despedi-me do Walace, recomendando-o que não parasse em nenhum lugar, até que encontrasse sua casinha.  Algumas passadas adiante me arrependi de ter deixado aquela criança ir embora sem sequer ter orado por ela abençoando-a. Olhei para trás por três vezes, na esperança de ainda vê-lo brincando na esquina, mas nada, o Walace se foi.

Fiquei imaginando o que seria da vida daquele menino, e me afligi por me lembrar que a situação do Walace não era diferente de milhares de crianças que vagam por aí nas ruas, muitas delas perdidas como nosso guri, sentindo-se desprotegidas e abandonadas. Aquilo só acentuava minha culpa. Mas a sorte estava comigo, pois antes de chegar na academia, ouvi uns gritinhos: Psiu, psiu, ei! Era o Walace correndo como um foguetinho em minha direção. Quando chegou bem perto pegou minha mão de novo e ofegante disse: Estou perdido, não sei voltar pra casa! Feliz por tê-lo encontrado novamente em tão pouco tempo, mas meio desesperado por ter agora o compromisso moral de ter que achar a casa dele, tentei acalmá-lo para fazer-lhe algumas perguntas.

Minha linha de investigação partiu do pressuposto que ele se lembraria de algum ponto de referência conhecido. Ah, lá perto de casa tem um bar, disse o guri sem contudo esclarece-me nada. Com um pouco de esforço mental ele lembrou-se finalmente de uma loja de móveis conhecida, e lá pelas tantas o nome de uma rua próxima. Aqueles indícios foram suficientes para eu me informar com algumas pessoas que estavam por ali, e indicar com certa confiança, qual o melhor caminho que o Walace deveria tomar para chegar em casa, ainda em tempo de pegar sua sopa quentinha, quem sabe. Mas, minha remissão não seria completa se eu não abençoasse aquele menino. Perguntei se ele sabia o que era orar, e ele abanou com a cabeça num sinal afirmativo. Indaguei então se sabia quem era Deus, e novamente sem palavras ele confirmou que sim. Então por alguns minutos ali mesmo na rua abençoei a vida dele, orei suplicando ao Senhor que intervisse na história daquela criança e que desse direcionamento para seu futuro, e que algum dia eu pudesse encontrar-me novamente com ele, dessa vez com um jovem temente a Deus, cheio do poder do Espírito Santo atuando em sua vida.

Talvez você nunca tenha o privilégio de conhecer o Walace mas, com certeza, poderá dar uma palavra de direcionamento a muitas pessoas que estão próximas a você que, como crianças, estão perdidas, desorientadas, longe da casa do Pai. Caberá a você apontar-lhes o caminho, o único caminho que os levará de volta para casa que é Jesus Cristo. Quem sabe Deus lhe dará o ministério de caminhar com elas durante um tempo, e através de sua vida poderá mostrar que na casa do Pai a refeição é farta e infinitamente melhor do que uma sopa monótona e requentada.

Um comentário:

  1. Se eu usar o termo Engraçado, acharia talvez comico! mas é lindo como Deus usa as coisas! fiquei mega emocionada com cada palavra q eu li aqui! Perfeitamente instruidas por Deus!
    Deus te abençoe Fabio!
    um beijo pra vc, pra lu e pras meninas!

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