terça-feira, 11 de outubro de 2011

pra quem sabe crer, o pingo é uma bênção



Levantar cedo naquela manhã fria não foi fácil. A sensação que tive é que dormiria, sem esforço algum por mais duas horas. Mas vencendo a preguiçinha tipicamente matinal em quinze minutos eu já estava no calçadão.

Tudo ia bem até a chuva apertar. No começo quis bancar o herói e resistir aos pingos grossos que caiam. Escondi os óculos no bolso, pois naquela situação mais atrapalhavam. Razoavelmente molhado olhei para um relógio digital que também informava a temperatura: 18º C. Aquilo foi um argumento muito forte e resolvi voltar. Deus, contudo, me reservava algo mais divertido e surpreendente.
               
Percebi então, quatro pescadores puxando uma longa corda, e logo deduzi ser uma rede. Num ritual sincronizado, puxavam até certa altura da areia da praia, quando o último largava a corda e passava a ser o primeiro da fila. Assim, revezando a ordem vagarosamente, venciam a inércia da rede lançada ao mar horas antes.
               
A chuva já estava bem forte, e como eu já estava completamente encharcado, resolvi ajudar aqueles homens. Sem dar muitos motivos os cumprimentei com um bom dia e logo fingi saber das coisas e peguei na corda exatamente como todos os quatro a estavam segurando: mão esquerda por trás do corpo e mão direita mais a frente, ambas pegando firme, e com o peso do corpo, puxavam forte. Agora éramos cinco naquele esforço. Inicialmente fiquei calado e eles também.
               
Na verdade eu não entendi muito bem o que estava acontecendo, até descobrir que não estávamos sós, mais quatro homens estavam há uns 200 metros de distância, puxando uma corda também, ao que perguntei: Aquela lá é outra rede? E eles me responderam: Não, é a mesma. Vamos puxar as duas pontas juntas e desta forma fechamos o cerco dos peixes desta parte da praia. Assim, ficamos revezando naquele movimento por mais de uma hora e, confesso, já estava exausto e com as mãos pegando fogo.
               
Finalmente, a bóia que sinalizava o início da rede chegou na arrebentação das ondas, estávamos quase lá. Um dos pescadores correu, entrou dentro d’água e com os pés baixava a chumbada, parte inferior da rede, e com as mãos sustentava as bóias, a parte superior. Seu objetivo era que nos momentos finais e mais importantes a rede não embolasse, e os peixes que ainda não estavam ‘malhados’ se perdessem. Todo cuidado era pouco naqueles momentos críticos, onde a apreensão já tinha tomado conta de todos. Quando os primeiros peixes apareceram foi uma alegria só, gritaria, euforia, festa mesmo. Nesta hora apareceram os curiosos. É impressionante como essa classe só chega no momento da festa.
               
Percebi que os pescadores não ficaram tão empolgados com a quantidade de peixes mas pra mim aquilo tudo era encantador. Peixes e crustáceos de várias formas, tamanhos e cores diferentes. Roncador, pescado, pescadinha, siris, lulas e espada iam enchendo uma caixa plástica colocada na areia. Observei também que alguns peixes eram devolvidos ao mar - todos os pequenos e o tal baiacu espinho, este independente do tamanho. O resultado daquela redada foi um pouco mais de meia caixa plástica de bonitos peixes.
               
Aos olhos de um transeunte desatento, aquela cena seria indiferente e corriqueira, mas para quem sabe crer, o pingo é uma bênção. Na igreja moderna somos tentados a delegar a alguns, especificamente sobre os líderes, a incumbência da pesca. Logo estão exaustos e desanimados. Com esses pescadores aprendo que para obter sucesso duradouro, todos precisamos igualmente pegar na corda da rede e nos revezarmos na frente da batalha. E não adianta muita programação, liturgias maravilhosas, cerimônias acaloradas, se na hora da redada, na hora de contabilizarmos os peixes pescados para Jesus, não temos habilidade de “pisar na chumbada e segurar a bóia” e deixamos os peixes escaparem.

A dedicação e as estratégias daqueles homens também me encantaram. Vejo muita gente tratando as coisas de Deus de maneira desleixada e descompromissada, acreditando apenas que “Deus proverá”. Mas com certeza, o que mais me marcou naquela manhã fria, foi a seleção de peixes: uns eram descartados, outros eram amontoados na caixa plástica. Assim será quando Jesus voltar, uns serão acolhidos num local preparado e destinado àqueles que optaram por crer nas promessas do Pai, reveladas em Jesus. Outros serão lançados no lago de enxofre, reservado para os que não assumiram um compromisso genuíno com o Senhor e com seu Reino.
               
Fui embora com uma sacola cheia de peixes, presente dos novos amigos pescadores, e agradeci a Deus, porque eu desisti da pesca, mas eles continuaram a lançar as redes.

Ainda há esperança, o Senhor ordena que se lancem as redes.

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