domingo, 22 de maio de 2011

apenas um toque - maria clara



Alguns encontros são emocionantes. Divinos.
O sol, com sua majestade, acabava de acordar imponente no horizonte da Praia do Flamengo. Eu já caminhava há cerca de 30 minutos. Tempo bom e propício para orar e acertar algumas arestas com Deus. Tempo de adorar e agradecer pela beleza da consagrada cidade do Rio de Janeiro. Vi então o que me parecia uma família de sem-teto - pai, mãe e criancinha pequena. Aquele que intitulei o pai, muito nervoso, aos berros tratava a criancinha com xingamentos que apertaram meu coração. "_ Tira a mão da boca, @4§*»#&." Meus olhos encheram-se de água instantaneamente e em poucos segundos eu já soluçava forte, com dores na barriga, clamando a Deus por misericórdia, pedindo perdão pelo distanciamento que alcançamos de Seus propósitos eternos , e confessando uma culpa holística da humanidade, sem contudo condenar a atitude hostil daquele pai. Ao contrário, vendo o despreparo paterno, e as condições sub-humanas daquela família, me solidarizei e intercedi ao seu favor.

Pedi ao Senhor a graça de uma aproximação eficaz, e com temor atravessei o canteiro que me separava daquela cena, ensaiando uma abordagem amistosa. Um ursinho de pelúcia sujo e velho me salvou. Agachei-me para falar com a criancinha elogiando seu bichinho, e usando toda minha "psicologia" para conquistá-la. Agora sentado no meio-fio, percebi que o que eu pensava ser o pai era na verdade a mãe: negra, obesa, cabelo raspado, e com cara brava. Iniciei um diálogo me apresentando, argumentando que era do Espírito Santo, tinha 3 filhas, e quando eu via uma criança ficava logo com muita saudade de casa e das meninas. Com esse argumento a mãe abriu um sorriso neutralizando aquele ambiente hostil, e rapidamente já nos sentíamos a vontade.

Fiz de tudo para conquistar a Maria Clara, dois aninhos de pura energia, olhos cheio de vitalidade, que pareciam não se incomodar com a ausência de um lar, de um teto. Talvez porque ninguém lhe ensinara o que é um lar ou um teto. Desconfiada, ficou me rodeando, sempre mantendo no mínimo dois metros de distância. Esgotei todos os meus trunfos para atrair uma criancinha naquela idade: me candidatei a contar uma historinha, arrisquei fazer a mágica de "tirar o dedo", ofereci os trocados que carregava no bolso para comprar pão, mas tudo foi em vão. Na última tentativa, a Maria Clara pegou uma pedra, e fez pose de ataque para deixar claro que eu não estava agradando. Teve que ser imobilizada pela outra senhora que estava sentada por ali também. Agora se enroscando na mãe, me olhava com ar de não vem que não tem. Ela me venceu e resolvi ir embora, não sem antes dar o último bote: estendi a mão me despedindo, e a mãe foi logo sentenciando:"_ Cumprimenta o homem, menina!" . Maria Clara estendeu timidamente sua mãozinha, eu a peguei e dei a tradicional sacudidela do cumprimento. Sem perder tempo e vendo ali minha última oportunidade, coloquei minha mão sobre a cabecinha dela e comecei a orar e profetizar sobre sua vida. "_Maria Clara, você será uma mulher de Deus, uma mulher cheia do Espírito Santo de Deus, usada poderosamente por Deus, e o que as criancinhas mais precisam é ser amiguinhas de Jesus". Enquanto eu orava, ela colocou sua mãozinha sobre a minha, impedindo que eu a retirasse, como se entendesse todas as conseqüências espirituais daquele momento inusitado. O tempo parou, o sol abriu mão de sua majestade para observar aquele momento mágico, o ar ficou imóvel para não atrapalhar, e a bênção do Deus todo poderoso foi ministrada.

Maria Clara é como toda criatura que se mantém distante do seu Criador, que quando cortejada, ensaia gestos hostis e agressivos, mas que paradoxalmente anseia justamente o contrário. A mão da Maria Clara sobre a minha enquanto eu orava por ela, disse tudo e foi a prova cabal de que o que ela mais queria era ser tocada. Há quanto tempo ela não era acariciada por um tipo masculino, desejada e abraçada pela figura de um pai, e muito menos abençoada por um sacerdote do Deus vivo?

Quando acabei minha oração pedi, e ela beijou meu rosto suado. Eu retribui o beijinho. Não sei por onde andará a Maria Clara, mas anseio que Deus honre minha oração e a abençoe como filha amada. Amém!

Um comentário:

  1. Sentimentos de amor e de muita emoção ao ler este artigo. Deus é bom, Deus é maravilhoso! Que Ele continue abençoando o nosso Pastor por onde quer que vc ande... Abraço

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