quinta-feira, 5 de maio de 2011

pare de se relacionar só com a igreja


Pare de se relacionar só com a igreja
Talvez a idade me dê agora um maior senso de urgência. Penso sempre que temos tão pouco tempo para nos relacionar com os irmãos e com Deus, e isso de de maneira sadia, edificante e produtiva, que dói minha alma quando me deparo com alguma proposta de relacionamento com muita ênfase na liturgia. O vocábulo liturgia, em grego é formado pelas raízes leit- (de laós, povo) e -urgía (trabalho, ofício) significa então serviço ou trabalho público. Vamos combinar logo no início deste artigo que liturgia é o conjunto de práticas rituais ou simbólicas, ou qualquer outro artifício que o devoto desenvolva na sua prática de culto. Preparei então um teste para identificar o grau de importância que a liturgia exerce em seu culto. Responda SIM ou NÃO às seguintes afirmações:
-se a ordem da reunião é alterada, fico muito incomodado. Ex.: o momento do ofertório acontece antes ou depois do usual.
-se o horário dos encontros é mudado, isso me irrita profundamente. Ex.: a reunião que sempre foi às 18:00 h passa a ser às 18:30 h.
-o propósito do encontro deve estar claro e sempre mantido. Se há alterações improvisadas, prefiro nem comparecer. Ex.: às quartas o encontro é reservado para uma ministração de ensino e resolveram alterar a programação.
-os costumes de minha comunidade têm tanta importância como os ensinos bíblicos. Ex.: as tradições e ritos têm o mesmo peso que os princípios bíblicos.
-as práticas do Velho Testamento não foram de todo abolidas. Ex.: alguns rituais do Velho Testamento devem ser praticados.
-os utensílios utilizados nas celebrações são sagrados. Ex.: o paninho que fica sobre o altar deve ficar sempre dobrado nesta posição.
- a roupa do ministro é muito importante. Ex.: os padres devem sempre usar a batina e pastores ternos.
Se você respondeu SIM a duas ou mais questões, você tem forte propensão a super enfatizar os atos litúrgicos.
Se você se relaciona com a igreja e suas liturgias, demonstra que é uma pessoa devota. A questão que levanto é que eu e você podemos nos relacionar com a liturgia e nos esquecermos do Senhor da liturgia. Mandamos bem no relacionamento com a igreja, e não desfrutamos mais da presença do Senhor da igreja. Marta queria liturgia, o serviço do povo. Maria queria teurgia, o serviço de Deus (Lc 10 38-42). Neste sentido o culto cristão é o serviço que Deus realiza em favor do devoto, ou em favor do Seu povo. Mas nós insistimos em ganhar a atenção de Deus com nosso esforço e trabalho. A graça é difícil de ser experimentada. O fato é que Deus está mais interessado no que somos do que no que fazemos.  No texto de Marcos 3:14 lemos: “E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar”. Esta talvez seja a sequência mais produtiva. Primeiro estar com o Senhor, depois fazer algo por Sua causa.

A letra mata, mas o espírito vivifica
A liturgia é antes do véu. É , como disse,  um esforço humano de chamar a atenção da divindade. Ouso sugerir que você não acabe com a liturgia, mas que caminhe para além dela. Se antes do véu é bom, imagine depois dele. Com o tempo a liturgia tomará seu devido lugar. Ela não é a celebração, eventualmente é o que pode nos lembrar e nos conduzir a celebração.
O melhor exemplo Jesus dá na parábola do filho pródigo.  Primeiro vem o abraço e o beijo, depois as questões litúrgicas, roupa, anel e sandálias (Lc 15:20-23). Isso tudo apenas para preparar o filho para a festa. Ou seja, a liturgia nos leva a festa, não a um enterro fúnebre. No relacionamento com Deus tudo termina em mesa, fartura, alegria e família.
Liturgia é levar a oferta ao altar, vida com Deus é voltar e reconciliar-se com o irmão. (Mateus 5:23-24)
O convite de Deus é claro: Por isso diz: Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para Mim abominação, e também as festas, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades a minha alma as aborrece, estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendei as mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei o opressor, defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas. (Isaías 1:13-17).
Veja que liturgias como: ofertas, incenso, festas e reuniões religiosas, ajuntamentos solenes, mãos elevadas aos céus, orações, tudo isso sem vida com Deus só o aborrecem. Deus não descredencia os atos litúrgicos, tanto que sugere para nos lavarmos e purificarmos, mas isso com vida comprometida na prática do bem.  A crítica então, não é contra a liturgia, mas a liturgia pela liturgia. A liturgia em si é boa, ruim muitas vezes é nossa relação com ela. No seminário aprendemos uma fórmula para uma igreja crescer: crie regras. Dez coisas que podem fazer, dez que não podem. As pessoas se realizam nisso. Cumprem as regras e se sentem justificadas. Já fui maçon e nada mais litúrgico do que uma reunião maçônica. Logo alcancei o posto de Mestre de Cerimônias. Eu me deleitava em decorar os passos litúrgicos e ao executá-los religiosamente, me sentia o máximo. Me tornei escravo da liturgia. Nem prestava atenção no conteúdo do que fazíamos, só depois que deixei a maçonaria enxerguei que não existia conteúdo. Palavras repetitivas que poderiam significar algo no passado, mas se tornaram estáticas e não diziam mais nada. É a liturgia pela liturgia. 
Talvez a melhor forma de quebrarmos a imposição da liturgia, é criando novas liturgias. Se podemos ter um cântico novo, porque não uma liturgia nova?
Culto não é uma proposta ritual, mas um estilo de vida. Pense nisto.

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